Os Ayoreo dizem que, nos tempos antigos, quando os
seres humanos tinham algo dos animais, e estes algo dos humanos, eles davam o
nome de Abuela Grillo ou Direjná ao grande grilo, que era o dono
das águas e que não podia com o calor.
Certa vez, a avó fez chover tanto sobre o povoado
Ayoreo que ele se inundou. Então seus habitantes pediram à Abuela que abandonasse o lugar. Com muita tristeza, ela deixou a comunidade
e seguiu caminhando, sem destino. Por onde passava, deixava o seu rastro e os rios
se formavam. Quando se sentava para descansar, se formavam as lagoas.
Enquanto isso, os Ayoreo
começaram a padecer pela grande seca e pela falta de alimentos. A água era
vital nas suas vidas e eles chegaram à conclusão de que tinha sido um erro ter
expulsado a Abuela Grillo da
comunidade. Por isso decidiram ir buscá-la seguindo seu rastro. Caminharam
muito, e, por fim, encontraram-na no centro de um pântano, onde se refrescava.
Seus netos, os Ayoreo,
se desculparam diante da avó, e lhe pediram que voltasse à comunidade. Ela não resistiu
ao convite e voltou junto com eles, mas algumas coisas não eram as mesmas, como
a presença do fogo e o uso deste no cozimento dos alimentos. Esse estranho
calor a afetava muito, a ponto de torná-la mais grilo. Então decidiu buscar
outro lugar para viver e assim foi visitar os oito céus que os Ayoreo têm. Nessa aventura, encontrou-se
com os seres que habitam cada céu e, vendo as oportunidades que havia em cada
lugar, decidiu morar no quarto céu, onde havia muita humidade. Lá ela se sentia
muito bem e também podia mandar chuva a seus netos, quando eles precisassem.
Para os Ayoreo,
a palavra tem poder, e este mito só deve ser contado nos períodos de seca, para
convocar a chuva. Cada mito desempenha um papel importante, de acordo com o
clima e com a situação em que vive a comunidade. Por isso o mito da Abuela Grillo não pode ser narrado em épocas
de chuvas e inundações.
(escrito por: Liliana de la Quintana, tradução minha)
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